Sou nada

Sou nada.
Escondo-me com múltiplas capas que vão caindo e me vão mostrando, quem realmente sou. Sou nada. Espanto-me todos os dias comigo própria, descubro algo que nunca pensei ser ou então, algo que pensei mas que não queria ser e recusava aceitar o ser: ser nada.
Vomito actos de outras pessoas. Habituo-me aos vícios dos outros e ganho-os sem desejar. Como se comesse partes e gestos que acabam por aparecer, sem vergonha, na minha pele. Mas pergunto-me: não somos todos assim? Em parte, canibais?
No entanto, não consigo descobrir onde ficam os meus gestos, as minhas expressões, os meus hábitos no meio dos intrusos no meu sistema. Talvez por os fazer, ter, ou dizer constantemente, não os note; porém, sinto falta do "Eu", sinto falta do "Ser", sinto falta de querer ser quem sou. Pois neste momento sou nada, e o ser nada não estou a aceitar.

1 comentário:

Leonor Neto disse...

Somos todos nada, e ao ser nada somos alguma coisa, porque nada alguma coisa o é, ao ser um conceito já o é :)
(e podes não ser nada e seres linda à mesma, podes não ser nada e para alguém seres tudo)